Pense bem antes de ir dormir sem escovar os dentes. A má higiene bucal pode trazer danos que vão muito além das cáries e gengivites e, por incrível que pareça, pode acarretar em problemas graves até para o coração. Primeiro, é preciso entender que a cavidade bucal é um dos locais mais infectados por bactérias do corpo humano. Habitam a nossa boca milhares delas, de cerca de 700 tipos diferentes, e isso é normal, Falta de escovação dos dentes pode prejudicar o seu coração.
Para que não causem danos, basta controlá-las com creme e fio dental, escovação e visitas regulares ao dentista. A falta de cuidados adequados, no entanto, abre duas “portas” para esses microorganismos: as cáries e as gengivites (inflamação na gengiva). A primeira, se não tratada, pode evoluir e levar à infecção da polpa (ou nervo) do dente.
E, por meio da polpa, as bactérias são capazes de chegar até a corrente sanguínea e se espalhar pelo corpo todo.
Já a gengivite, que tem como caraterística o sangramento da gengiva, também facilita a entrada de bactérias na corrente. Uma vez dentro do organismo, essas bactérias são carregadas pelo sangue para diversas partes do corpo, num processo chamado de bacteremia. Elas podem, então, se alojar em diferentes órgãos inclusive, o coração, causando uma inflamação no músculo chamada de endocardite.
Essa doença tem várias consequências: broncopneumonia, insuficiência cardíaca e até, em casos graves, uma sepsis, infecção generalizada com índice de mortalidade de 100%. O risco é maior para quem já tem alguma condição cardíaca, como portadores de próteses valvulares, shunts e cardiopatias congênitas cianóticas complexas, por exemplo. Isso porque a tendência é que as bactérias alojem-se e causem danos em órgãos e outras partes do corpo que já apresentam algum tipo de enfraquecimento por outras causas. Segundo o Incor (Instituto do Coração), a taxa de mortalidade de quem tem endocardite é de 25% ou seja, 1 a cada 4 pessoas acaba morrendo.
Os sintomas mais comuns de endocardite bacteriana são febre baixa, fadiga, perda de peso, suor excessivo e dores nas articulações. O tratamento, em geral, é feito por um cirurgião-dentista e um cardiologista. A boa notícia é que é possível prevenir a doença, mesmo em quem tem predisposição, de maneira simples:
cuidando bem da saúde bucal, ou seja, escovando os dentes depois de cada refeição, usando fio dental e visitando o dentista a cada seis meses.
Os dentistas também alertam para a importância de tratamento urgente para infecções bucais. Há quem passe anos negligenciando sangramentos na gengiva, abcessos (acúmulo de pus), feridas recorrentes na boca, entre outros pequenos quadros que, se não tratados, podem evoluir para estados mais graves. Portanto, acredite: a saúde começa, sim, pela boca. Trate bem da sua.
Fontes: Helenice Biancalana, cirurgiã-dentista e diretora do Departamento de Prevenção da APCD – Associação Paulista de Cirurgiões-Dentistas (SP), Osmir Batista de Oliveira Júnior, professor da Faculdade de Odontologia na Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp), em Araraquara (SP), e João Vicente da Silveira, cardiologista do Hospital Sírio-Libanês (SP).
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